Há muito, muito tempo, bacana era ser nobre; começava pela rainha, depois vinham as duquesas, condessas, marquesas etc. O tempo passou, cabeças foram cortadas, e os novos ricos foram os herdeiros, digamos assim, do que era a elite da época.
O tempo continuou passando; vieram os grandes industriais, os empresários, os donos de supermercado, os bicheiros, os marqueteiros, a indústria da moda, até mesmo os políticos, houve os yuppies e surgiu uma curiosa casta nova: a das celebridades. Desse grupo fazem parte atores de televisão, personagens da vida artística, jogadores de futebol, pagodeiros, sertanejos etc., e começaram a pipocar dezenas de revistas cujo objetivo é mostrar a intimidade dessas celebridades, contando os detalhes da vida (ou morte) de princesa Diana, Madonna ou Michael Jackson. Quanto mais íntimos e escabrosos, melhor.
Nesse admirável mundo novo, a moda tem uma enorme importância, e nesse quesito o que conta – mais que a elegância e o bom gosto – é saber de que grife é cada peça que está sendo usada; quanto custou cada uma todos sabem, já que são tão cultos. Um pequeno detalhe: quando duas celebridades se encontram, mesmo que nunca tenham se visto, se cumprimentam efusivamente.
Antes, muito antes, era diferente: um nobre, mesmo pobre, era respeitado por suas origens, pelo que teria sido feito por algum de seus antepassados. Mais tarde, os homens de negócios eram admirados por sua inteligência, sua capacidade em construir alguma coisa importante na vida. Agora as pessoas são definidas por símbolos, a saber: onde moram, a marca do sapato, da saia, da jaqueta, da bolsa, do relógio, do carro, se têm ou não Blackberry, para onde costumam viajar, em que hotéis se hospedam, a marca de suas malas, que restaurantes frequentam, aqui e quando viajam. Ninguém tem coragem de arriscar férias em um lugar novo, um restaurante que não é famoso, usar uma bolsa sem uma grife facilmente identificável.
Mas quem responder de maneira certa às tais indagações poderá, talvez, ser aceito na turma das celebridades. Acordei hoje falando muito do passado; acontece, vou continuar. Houve um tempo em que mulheres do maior bom gosto apareciam com uma bonita saia e uma amiga dizia “que linda, onde você comprou?”.
Hoje, isso não existe mais, porque as pessoas – aquelas – não usarão jamais uma única peça de roupa que não seja grifada. Outro dia fui a um jantar em que havia umas 40 pessoas, sendo 20 mulheres. Dessas 20, dez usavam sapatos Louboutin, aquele que tem a sola vermelha. Preço do par, em São Paulo: R$ 10 mil. Estavam todas iguais, claro, mas o pior é ser avaliada e aceita pela cor da sola do sapato; demais, para minha cabeça.
O prazer – e o chique, a prova da capacidade de improvisar – era botar uma roupa bonita comprada em um mercado qualquer de Belém, Marrakech ou Istambul, e ser diferente. Hoje é preciso mostrar que folheou a revista que tem a informação do que está na moda e que tem dinheiro para comprar. E os jogadores de futebol e os pagodeiros, que não aprenderam o que é bonito na infância, porque eram pobres, nem na vida adulta, porque não deu tempo, olham as revistas, entram no Armani e fazem a festa, já que são também celebridades.
Não há mais lugar para a imaginação, a criatividade, para uma sacada de última hora, que faz com que uma determinada mulher seja a mais especial da noite. Eu não frequento este mundo, mas de vez em quando esbarro nele sem querer, e é difícil.
Um mundo de clichês; mas como tudo passa, estou esperando a hora de acordar e pensar que essa época não passou de um pesadelo.
Por Danuza Leão